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São Clemente leva panelaço à Marquês de Sapucaí e exalta o palhaço
Redação em 14 de Fevereiro de 2016
Terceira escola a desfilar nesta segunda-feira (9) do Carnaval 2016 no Rio de Janeiro, a São Clemente veio com requinte e bom gosto em suas alegorias e fantasias e apostou na tradicional irreverência e animação de seus componentes ao apresentar o enredo "Mais de Mil Palhaços no Salão", contando a história de um dos personagens mais fascinantes do mundo artístico.
"A figura do palhaço sempre me fascinou. Ela é dúbia, é debochada, é misteriosa. Você não sabe se está triste ou feliz. E a situação do país me inspirou a fazer o enredo. Obviamente, temos uma pitada de crítica", revelou a carnavalesca Rosa Magalhães, que participou do desfile em um dos carros alegóricos, como vendedora de patos.
Um momento de tensão aconteceu no meio do desfile: um carro representando o picadeiro e a criação do circo moderno na Inglaterra enfrentou problemas na direção, emperrou no meio da avenida, e precisou ser empurrado após ficar parado por alguns minutos, o que provocou um grande buraco entre a alegoria e a ala que vinha à frente. Toda a escola teve que desacelerar até o problema ser resolvido, o que pode prejudicar as notas, mas não impediu a agremiação de fechar o desfile dentro do tempo máximo, com 1h20.Quem também passou por momentos tensos na avenida foi a rainha da bateria Raphaela Gomes, 17. Ela, que é a mais nova rainha da Sapucaí, escorregou e sofreu um tombo durante o desfile. "Não machucou, não", afirmou Rafaela, já na dispersão. "Tinha muito óleo na pista, mas a bateria me deu força e levantei logo".
Abrindo a apresentação, veio uma comissão de frente inspirada nos filmes "Bye Bye Brasil", de Cacá Diegues, e "O Circo", de Charles Chaplin, além de produções do cineasta italiano Federico Fellini. A ala trouxe palhaços, mágicos e contorcionistas para a avenida, com acrobacias e até um truque de levitação com uma caixa.
Sérgio Lobato, coreógrafo da ala, manteve segredo sobre os truques. "Foram três meses de preparo com diversos consultores. A primeira parte foi bem lúdica. O truque é segredo, não posso revelar, senão estraga o trabalho dos mágicos".
A crítica do desfile veio no encerramento do desfile, que apostou na sátira política, com o último carro trazendo um enorme palhaço decorado de verde e amarelo e batendo panelas, precedido de uma ala também fazendo panelaço, lembrando os recentes protestos pelo país contra a corrupção.
No enredo, a história do palhaço começava na Idade Média. O abre-alas "O Inferno e o Céu nos Autos Medievais", repleto de demônios na frente, relembrou as encenações que as igrejas faziam de passagens bíblicas, em que um ator que representava o diabo fez graça e foi expulso pelo padre, dando origem à figura do palhaço.
Ainda na Idade Média, o segundo setor da escola homenageou os bufões, ou bobos da corte, que diziam as verdades incômodas com humor, os artistas mambembes e a posterior Comedia dell'Arte.
Outra história contada pelo enredo da São Clemente foi o surgimento da maquiagem branca, que virou marca registrada dos palhaços, adotada, segundo o enredo, por causa de "palhaços padeiros" que faziam graça jogando farinha nos rostos dos outros --no terceiro carro, jogaram 25 quilos de farinha no público.
No penúltimo carro, a São Clemente lembrou os palhaços brasileiros, como Oscarito, Grande Otelo e Carequinha, que, ao contrário dos europeus, sempre tiveram a particularidade de falar e cantar.