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  • VILA ISABEL REUNIU COMPOSITORES PARA A ENTREGA SINOPSE DO CARNAVAL 2013

    Lucia Mello em 11 de Julho de 2012

    A Vila Isabel ontem reuniu seu time de compositores na quadra para entregar a sinopse do enredo 'A Vila canta o Brasil celeiro do mundo - água no feijão, que chegou mais um...'. A carnavalesca Rosa Magalhães e o historiador Alex Varela apresentaram o texto, desenvolvendo cada uma das etapas e versos. Eles salientaram o caráter bem brasileiro do tema, cuja finalidade é apresentar os agricultores de nossa terra em todos os âmbitos, explorando sua religiosidade, crenças, tradições festivas e musicalidade, entre outros assuntos.
    "Daqui sairá um grande samba", apostou a carnavalesca Rosa Magalhães, logo endossada por Tunico Ferreira, filho de Martinho da Vila e um dos muitos compositores fiéis à azul e branca presentes na explanação. "É bom as co-irmãs tomarem cuidado. Nos dedicaremos a um dos melhores enredos do nosso carnaval nos últimos 4 anos. E ele tem a cara da Vila! Não será brincadeira...", declarou. Assim como Tunico, o compositor Eduardo Katata, que há 10 anos participa das disputas de samba realizadas na escola, não poupou elogios ao tema: "É maravilhoso, de fato, e muito bom para o compositor. Colocaremos nossas cabecinhas para trabalhar a partir de agora e, estou seguro, em breve teremos acesso a excelentes obras".
    Novos encontros entre os compositores, que devem aproveitar as oportunidades para esclarecer dúvidas, e a direção da Vila Isabel acontecerão no barracão, na Cidade do Samba, dias 31 de julho e 07 de agosto, das 20h às 22h. Já a entrega das obras ocorrerá na quadra, dia 16 de agosto, a partir das 20h. Para se inscrever, as parcerias terão de levar 30 cópias da letra do samba e dois CDs com o áudio do mesmo.    

                                
                        
    GRES UNIDOS DE VILA ISABEL – CARNAVAL 2013
                     
    PRESIDENTE EXECUTIVO: WILSON DA SILVA ALVES
                      
    PRESIDENTE DE HONRA: MARTINHO DA VILA
                       
    SUPERINTENDENTE: RITA DE CÁSSIA DA SILVA ALVES
                       
    VICE-PRESIDENTE: ELIZABETH AQUINO
                        
    CARNAVALESCA: ROSA MAGALHÃES
     
    AUTORES DO ENREDO: ROSA MAGALHÃES, ALEX VARELA E MARTINHO DA VILA
    TÍTULO DO ENREDO: A VILA CANTA O BRASIL CELEIRO DO MUNDO -  “ÁGUA NO FEIJÃO, QUE CHEGOU MAIS UM...”   
                            
    SINOPSE DO ENREDO 
    O trabalho no campo é fruto de muito suor, dedicação e amor pela terra, os quais permitiram que o Brasil se tornasse um destaque na agricultura mundial, caminhando a passos largos para a condição de principal país agrícola do planeta.
    Essa dedicação às atividades rurais gera milhões de empregos e riquezas, colaborando para a grandeza do nosso país. A prosperidade nacional se deve aos milhões de homens, mulheres e jovens que se dedicam ao cultivo de nosso solo fértil.

    O brasileiro tem fama de ser hospitaleiro e cordial. É bem verdade que um cafezinho já serve pra quebrar o gelo nas reuniões, pra esticar uma conversa, na mesa, depois da refeição. E aquela visita inesperada ou convidado de última hora, sempre é bem-vindo. Afinal de contas, onde come um comem dois, ou sempre podemos botar “água no feijão, que chegou mais um...”. (Jorginho do Império)

    A natureza generosa nos dá o feijão nosso de cada dia, o trigo do pão também, e o milho de fubá, e o arroz, e a cebola pra temperar, o alho, e a mandioca para fazer farinha, pra acompanhar...

     

           “No recanto onde moro, é uma linda passarela

                O carijó canta cedo, bem pertinho da janela

                Eu levanto quando bate o sininho da capela.

                E lá vou pro meu roçado, tendo Deus de sentinela

                Tem dia que meu almoço, é um pão com mortadela,

                Mas lá do meu ranchinho, a mulher e os filhinhos,

                Tem franguinho na panela” (Lourenço e Lourival)

     

             “Que vidinha simples, que vidinha boa

               A bóia é sagrado frango e quiabo

               Acompanhado de ovo caipira, arroz e feijão

               Depois do almoço sem muito esforço

               Encosto meu corpo no barracão”. (João Carneiro e Capataz)

     

    Esse mundo natural pródigo é o orgulho do país. Da terra vem a riqueza da nação. É do solo que nasce o engrandecimento da pátria. É dos produtos oferecidos pelos seus verdes lindos campos que conseguirá progredir. Portanto, é das suas terras, imensas e extensas, que a providência divina ofertou, que virá a sua transformação em celeiro agrícola da humanidade: a maior região produtora, fornecedora e abastecedora de alimentos do planeta terra.

     

    E quem será o responsável por cuidar do seu solo fértil? O agricultor, esse trabalhador extraordinário, arrojado, competente, que tem na terra o seu precioso bemO homem do campo terá a missão de torná-la próspera, inseri-la no concerto das nações civilizadas, ampliando os cultivos, sem jamais destruir a natureza, os verdejantes bosques. Dos produtos agrícolas, virá a transformação do Planeta Faminto, num mundo de mesa farta e sonhos possíveis. 

     

           “Enquanto uns fazem guerra

              Trazendo fome e tristeza,

              Minha luta é com a terra

              Pra não faltar pão na mesa” (Joel Marques e Maracaí)

     

    “Mulher, você vai gostar

    To levando uns amigos pra conversar

    Eles vão com uma fome que nem me contem,

    E vão com uma sede de anteontem,

    E vamos botar água no feijão...” (Chico Buarque)

     

           Eis a terra sustentável por natureza, e que pode ser mais. Afinal, aqui por estas bandas... “tudo que se planta dá”. Mas com o pensamento voltado para as necessidades dos comensais do grande banquete diário e os anseios do planeta onde vivemos, sem afetar as possibilidades de onde viverão os nossos filhos e netos, aproveitando com inteligência, cada palmo deste chão. Multiplicai os alimentos, mas sem ampliar as áreas de cultivo!

     

           “Eu tenho um coqueiro grande que só dá coquinho...

               Quando eu quero um coco grande, tem que ser do coqueirinho...”.

     

           Tamanho nem sempre é documento. Precisamos aprender com o coqueirinho, a aproveitar cada centímetro da plantação, produzindo mais, com astúcia. Para não desgastar os solos, a solução é o plantio feito na palha de culturas anteriores!

     

    Várias etnias se agregaram às três raças formadoras da nação - o branco, o negro e o índio – para formar a nossa tradição agrícola. Imigrantes, como os alemães, os japoneses, e os italianos, e outros em menores grupos, se dedicaram igualmente à agricultura.

     

    Assim como a agricultura, a música do campo é a origem do Brasil.

     

    “moda bem tocada é aquela que desperta em nós uma saudade que  agente nem sabe do quê...”.

     

    O som da viola canta a música do campo e conta a história daqueles que vivem da terra, que lutam, que prosperam e fazem o país crescer.

     

    A moda de viola trás a saudade dos tempos de outrora, mostra a vida cantada em versos simples e retrata a obra magnífica do homem do campo, do agricultor que com afinco, dedicação e conhecimento transforma a terra em riqueza.

     

    Segundo Câmara Cascudo, “somos filhos de raças cantadeiras e dançarinas”, o que ajudou na estruturação da música do campo.

     

    O violeiro é aquele que por instinto lê os sinais da natureza e os interpretam. Tem na sentimentalidade a bússola com que se orienta no mundo. É um artista que, nas asas da tradição, canta querências e saberes poetizados.

     

    “passo por cima das nuve

    Esbarrando no trovão

    Danço no meio da chuva

    Bem no meio do clarão...” (Lourival dos Santos e Priminho)

     

    A primeira fábrica de viola nasceu na fazenda Córrego da Figueira, em Campo Triste, fábrica de viola da marca Xadrez.

     

    “Na Fazenda Figueira

    O Dego e o seu irmão

    Entraro na mata virge

    A procura de madera

    Pra fazê uma viola

    E já fizero a primeira” (Antonio Paulino)

     

    “Esta viola vermelha

    Cor de bandeira de guerra

    Cor de sangue de caboclo

    Cor de poeira da terra”. (Tião Carreiro e Jesus Belmiro)

     

    “O som da viola bateu

    No meu peito doeu meu irmão

    Assim eu me fiz contador

    Sem nenhum professor”. (Peão Carreiro e Zé Paulo)

     

              “Ai, a viola me conhece

    Que eu não posso cantá só

    Se eu sozinho canto bem

    Em junto canto mió” (Carreirinho)

     

              “Minha viola
              Ta chorando com razão
              Por causa duma marvada
              Que roubou meu coração”. (Noel Rosa)

     

    O mundo da música é o da alma humana, e esta, na cidade ou no campo, não tem limite. A poesia se entrelaça com as paisagens, e as paisagens com os sentimentos.

     

    “O rio Piracicaba vai jogar água pra fora

    Quando chegar a água

    Dos olhos de alguém que chora

    Pertinho da minha casa

    Já formou uma lagoa

    Com lágrimas dos meus olhos,

    Por causa de uma pessoa”. (Lourival dos Santos, Tião Carreiro, e Piraci)

     

    “Eu fiz promessa

    Pra que Deus mandasse chuva

    Pra crescer a plantação”.

     

    O povo recorre a promessas quando a chuva não vem. Neste caso, a promessa foi paga com três pingos...

     

    “Um, foi o pingo da chuva,

    Dois caiu do meu oiá”. (Raul Torres e João Pacífico)

     

    Até os santos ficam de castigo, sendo trocados de Igreja, talvez pra prestarem mais atenção pros problemas do campo.

     

    “São José de Porcelana foi morar

    Na matriz da Imaculada Conceição

    A Conceição, incomodada,

    Vai ouvir nossa oração

    Nos livrar da seca, da enxurrada

    Da estação ruim.

    Barromeu pedra sabão vai pro altar

    Pertence a estrela mãe de Nazaré

    A Nazaré vai de jumento

    Pro mosteiro de São João

    E o evangelista, pra basílica de S. José

    Se a vida mesmo assim não melhorar

    Santo que quiser voltar pra casa

    Só se for a pé”. (Chico Buarque)

     

    Os animais e as plantas também são assuntos recorrentes das modas de viola.

     

    “Canta, canta Bem-te-vi

    Pra mim ouvir

    Canta, canta sabiá

    Pra me consolar” (Alvarenga e Ranchinho)

     

    “Quero ouvir a siriema

    Cantar por ti, Iracema

    No nosso jardim em flor”. (Mario Zan)

     

    “Comprei um casco chapeado

    Uma baldrana macia

    Um colchonilho dos brancos

    Pra minha besta rosia

    Um peitoral de argolinha

    E uma estrela que bria

    Fui dá uma passeio em Tupã

    Só pra vê o que acontecia”. (Anacleto Rosas Júnior e Arlindo Pinto)

     

    A música do homem do campo tomou grande impulso de divulgação nos anos vinte do século passado, graças as primeiras gravações. Hoje, a música é divulgadíssima. São realizados grandes shows. Os temas também evoluem, as técnicas de plantação também se sofisticam, mas a alma que os embala é a mesma, a alma caipira e brasileira.

     

    “Baile na roça, meu bem, se dança assim,

    Pego na cintura dela e ela tarraca em mim

    E o sanfoneiro toca, toca alegria,

    Vamo, vamo minha gente até o clarear do dia

    Dança, dança com a morena, dança, dança, com a loirinha,

    Começa o baile na tuia e termina na cozinha.

    Viva o baile da roça, viva a noite de S. João

    E o povo brasileiro conservando a tradição”. (Tunico e Tinoco)

     

    Hoje, o samba, homenageia o agricultor! Os sambistas celebram e eternizam esse personagem de real valor! A viola se junta aos pandeiros, chocalhos e surdos de primeira, para unir a cultura do sambista com a do homem do campo, numa grande festa de celebração da colheita. E, neste palco iluminado, por confetes e serpentinas, a Vila de Noel e de Martinho vem homenagear essa figura notória, original e bem brasileira: o agricultor. Ele merece o nosso respeito!!! É o agricultor brasileiro ajudando a alimentar o mundo!!!

     

    Autores do Enredo: Rosa Magalhães (Carnavalesca), Alex Varela (historiador) & Martinho da Vila


     

    Bibliografia:

     

    Basf Brasil 100 Anos. Transformando a Química da Vida. Basf, 2011.

     

    Caldas, Waldenyr. O que é música sertaneja. SP: Brasiliense, 1999.

     

    Dossiê Hora de Pular a Fogueira. Revista de História da Bilblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 4, n.º 45, junho 2009.

     

    Lourenço, Fernando. Agricultura Ilustrada. Liberalismo e escravidão nas origens da questão agrária brasileira. Campinas, Editora da Unicamp, 2001.


    Linhares, Maria Yedda Leite. História do abastecimento: uma problemática em questão (1530-1918). Brasília: Binagri, 1979.

                                                     & Silva, Francisco Carlos Teixeira da. História da Agricultura no Brasil. Debates e Controvérsias. São Paulo, Brasiliense, 1981.


    Motta, Márcia (organização). Dicionário da Terra. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005.

     

    Prado Junior, Caio. A Questão Agrária no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2000.

     

    Ribeiro, José Hamiltom. Música caipira. As 270 maiores modas de todos os tempos. São Paulo: Globo, 2006.

     

    Severiano, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2008.

     

    Vídeo Basf – O Planeta Faminto e a Agricultura Brasileira. (Acessado: http://www.youtube.com/watch?v=aoiP-WK3V8o).

     

     



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