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Unidos de Padre Miguel divulga sinopse de "Baião de Mouros" para 2023
Redação em 18 de Agosto de 2022
Na noite desta quarta-feira, 17 de agosto, a Unidos de Padre Miguel apresentou a sinopse do enredo "Baião de Mouros", tema que a agremiação levará para a Marquês de Sapucaí em 2023.
No encontro com compositores, os carnavalescos Edson Pereira e Wagner Gonçalves fizeram a explanação do tema e a direção da escola passou informações sobre o concurso de samba-enredo que terá início no próximo mês.
Confira a sinopse Baião de Mouros”
“Eu era feliz vestindo os couros de cabra que outrora usava. Mais do que o sou agoraem
suntuosas roupas.
Se eu pudesse viveria, não neste alcáçar, mas na tenda do deserto onde muge o vento.O
camelo impetuoso de passo agitado eu amo mais que a mula de pacífico passo” (Califa
Moawi)
Tudo é sertão para quem é do Nordeste. Tudo é terra para quem não a tem. Forasteiros pisaram
na terra nordestina. Ao cantarem, suas músicas tinham como plateia os ouvidos mais absolutos: os
meninos descalços que corriam pela terra dura da lida. Reza a lenda sertaneja que “Criança, diante
de sua sabedoria, faz bem três coisas: Brincar, chorar e imitar”. De memória, o som da música dos
turcos-que-nem-sempre-são-turcos passou a ser repetida. Na transversal do tempo, o vulto branco
que a poeira ruiva envolvia transformou-se em palavra cantada. Virou história romanceada. Fez
nascer o Rei do Baião. O Baião é árabe, talvez por conta de o acordeon de Lua e Januário terem a
ver com o Maltuf de outrora. De “repente”, tudo vem do passado.
A influência árabe no Nordeste está presente em muita coisa: no chapéu do cangaceiro, nos
leques e guarda-sóis, na maquiagem das sobrancelhas e olhos, no ato de recitar a tabuada, na
mantilha das mulheres, no uso de tapetes, nas janelas quadriculadas e nos azulejos... do comérciodo
mascate ao turbante branco muruçumim, inclusive no gibão que cobre um cabra...
Diante dos conflitos mouriscos na Península Ibérica, a expressão cultural de Portugal e Espanha
fundiram-se em poemas e romances de cavalaria, que encontrariam uma nova morada em terras
nordestinas, de “pedras” e “reinos” e castelos armoriais. Palavras cantadas por homensque, de lá e
de cá, conhecem o Sol e o deserto, as vértebras do camelo, as dunas que fazem as vezes de florestas,
as vitórias na guerra cavalhada onde uma cabeça de boi se finge de máscara...Os “beduínos do
Nordeste” são nômades que seguem firmes na luta. O verbo é a arma que eles usam na disputa dos
repentes.
Das feiras de Ocaz, cidade vizinha de Meca, ao canto do Guerreiro Menino de Orós.
Anualmente, milhões de islâmicos do mundo inteiro refazem os passos do profeta Maomé em sua
“romaria”. Todo muçulmano deve ir uma vez à meca da mesma forma como todo sertanejo deve
visitar ao menos uma vez na vida o santuário de Padre Cícero, a quarta figura da Santíssima
Trindade.
Nesse contexto encantado, o tempo explica esta vitalidade garrida de um povo, que, de tão único,
parece lendário, armorial. Aqui, os muezins das mesquitas passaram a ter o som do aboiodos
vaqueiros. Os raqs viraram pandeiros, os tabals, zabumbas, e há quem diga que o atabaque também
tem sangue mourisco. Assim como a trilogia sertaneja - pífano, rabeca e viola – ainda ressoa em
solo nordestino a sua música num passado andaluz. Terra onde as morenas também nascem
esculpidas pelo vento. A brisa mourisca ainda respira nos pulmões o lingui-lingui – ou a
“A Música árabe veio roçar com sua asa de fogo os cantares do nosso Romanceiro,
assim como os toques das nossas violas e rabecas, (...) trazendo nas cordas de seus
instrumentos e nas de suas gargantas as coplas, xácaras e romances cantados em
ladino.” (Ariano Suassuna)