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Uma ode em homenagem a Dona Ivone Lara
Redação em 14 de Abril de 2025
13 de abril, celebramos não apenas o Dia do Samba, mas também a rica herança cultural que ele representa para o Brasil. Em homenagem a essa tradição vibrante, três poderosas vozes trazem textos emocionantes alusivos para Dona Ivone Lara.
Branka, Lu Carvalho e Keilla Regina, fazem parte do Projeto ABC do Samba, uma iniciativa que exalta o legado de três divas icônicas: Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes. O nome do projeto, que remete às iniciais das homenageadas, simboliza a base e a essência do samba, um gênero que pulsa no coração de muitos.
Neste contexto, os artigos que se seguem não apenas reverenciam essas grandes vozes, mas também nos convidam a refletir sobre a importância do samba em nossas vidas, especialmente nessa data, quando homenageamos Dona Ivone Lara, uma verdadeira pioneira do gênero.
Por Branka -
Falar de Dona Ivone Lara é falar de força, de delicadeza, de coragem e de poesia. Ela não foi apenas a primeira dama do samba, ela foi, e continua sendo, um farol para todas nós, mulheres que compõem, que cantam, que vivem o samba com o coração aberto.
Como sambista e compositora, eu cresci ouvindo as melodias de Dona Ivone e me reconhecendo nas histórias que ela contava com tanta verdade. Ela abriu um caminho num espaço onde, até hoje, a presença feminina na composição ainda precisa ser afirmada, celebrada e fortalecida.
Dona Ivone me inspira a cada canção que eu escrevo. Sua trajetória me lembra que é possível sim ocupar esse lugar de criação, de autoria, com dignidade, beleza e firmeza. E mais do que isso: que a nossa voz importa. Que nossas palavras podem emocionar, transformar, resistir.
Eu me sinto parte de uma corrente que ela ajudou a construir — uma corrente de mulheres que fazem do samba a sua casa e da composição o seu grito, seu colo, sua bandeira. E sempre que eu subo num palco ou pego o papel pra escrever, levo comigo essa força ancestral que ela nos deixou como herança.
Obrigada, Dona Ivone, por ser caminho, raiz e flor.
Por Lu Carvalho -
Dia Nacional da Mulher Sambista: Uma celebração à força e à história de Dona Ivone Lara
No dia 13 de abril, o Brasil celebra o Dia Nacional da Mulher Sambista, uma data criada para homenagear a trajetória, o talento e a resistência feminina dentro do samba. A escolha do dia não é por acaso: trata-se de uma homenagem à cantora, compositora e instrumentista carioca Yvonne Lara da Costa, imortalizada como Dona Ivone Lara — a eterna rainha e grande dama do samba.
Dona Ivone Lara foi uma verdadeira pioneira. Em uma época em que o ambiente do samba era predominantemente masculino, ela quebrou barreiras e abriu caminhos para tantas outras mulheres que sonhavam em expressar sua arte. Foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, o Império Serrano, além de ser a primeira a assinar um samba-enredo. Com sua voz marcante e sua poesia refinada, Dona Ivone deixou um legado que ultrapassa gerações e fronteiras.
Seu repertório é um verdadeiro tesouro da música popular brasileira, com obras que traduzem a alma do samba em melodias suaves e letras profundas. Sucessos como "Sonho Meu", "Acreditar" e "Alguém Me Avisou" não apenas encantaram plateias, mas também firmaram seu nome como uma das maiores compositoras da história.
Como cantora e compositora de samba, tive o imenso privilégio de homenagear Dona Ivone Lara no projeto Sambabook dedicado à sua obra. A convite da minha tia, a saudosa Beth Carvalho — outra gigante do samba —, participei cantando a música "Bodas de Ouro". Esse momento marcou profundamente minha trajetória artística e pessoal, pois interpretar uma obra de Dona Ivone é, acima de tudo, um ato de reverência e reconhecimento à luta das mulheres sambistas.
O Dia Nacional da Mulher Sambista é mais do que uma data comemorativa; é um lembrete da importância de valorizar e fortalecer a presença feminina no samba. É celebrar a coragem de quem abriu caminhos, resistiu às adversidades e transformou a dor e a alegria em música. Que possamos, todos os dias, honrar a memória de Dona Ivone Lara e de tantas mulheres que fazem do samba um espaço de expressão, liberdade e beleza.
Por keilla Regina
O dia 13 de abril, aniversário da grande dama do samba Dona Ivone Lara, é um lembrete vivo de que o samba tem alma feminina, negra e guerreira. É uma data para cantar, para agradecer e para continuar sonhando. Dona Ivone Lara abriu caminhos para que mulheres como eu pudessem ocupar espaços no samba sem pedir licença. Por isso, carrego sua memória com carinho e respeito, na certeza de que sua voz continua viva em cada nota que eu solto no ar.
É um momento de reverência, de lembrança e de renovação do meu compromisso com a música que escolhi cantar e viver. Dona Ivone não foi apenas uma artista genial — ela é, até hoje, um farol para mim, como cantora de samba, como mulher e como mulher negra.
Desde que me entendo como artista, sua trajetória me toca de maneira profunda. Ela foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores da Império Serrano, em um tempo em que o samba ainda era um território majoritariamente masculino. Quebrar essa barreira, sem abrir mão da delicadeza, da poesia e da força das suas composições, foi uma revolução silenciosa, mas poderosa. Quando penso nas dificuldades e nos preconceitos que ainda existem hoje, me inspiro na dignidade e na coragem com que ela trilhou seu caminho.
Em 2021, tive a honra de gravar uma música dela: Sem Amor Sou Ninguém. Foi uma escolha carregada de significado. Cantar Dona Ivone é mais do que interpretar uma obra-prima; é mergulhar em uma ancestralidade musical que fala de dor, resistência, amor e esperança. É como se, por alguns minutos, eu pudesse tocar na alma dessa mulher que tanto admiro. A força da sua letra, combinada à melodia que transborda sentimento, me emociona toda vez que canto.
A influência de Dona Ivone Lara na minha carreira vai além do repertório. Ela me ensinou que é possível ser firme sem perder a doçura, que a autenticidade é uma forma de resistência, e que nossa história precisa ser contada por nossas próprias vozes. Como mulher negra, vejo nela um espelho e, ao mesmo tempo, uma ponte que liga gerações de sambistas que se recusam a deixar essa arte morrer ou ser descaracterizada.
Dona Ivone, com sua presença serena e seu talento imenso, plantou em mim a certeza de que cantar samba é, também, um ato de amor e resistência. E é isso que me move, todos os dias.
Assim como Dona Ivone Lara, "Nasci pra sonhar e cantar"... todas as honras rainha!