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  • Sinopse do GRES União do Parque Curicica

    Lucia Mello em 19 de Julho de 2018

    A União do Parque Curicica realizou nesta terça-feira, 17 de julho de 2018, às 20h, a entrega da sinopse do enredo para o Carnaval 2019.

    Com o título: Eu vi Deus, Ela é negra! A União do Parque Curicica será a 5ª escola a desfilar na terça-feira de carnaval, 05 de março de 2019, na passarela popular do samba Intendente Magalhães.

    O encontro consistiu em um bate papo descontraído com nosso Carnavalesco, contou ainda com a participação da nossa presidência, esclarecendo dúvidas que surgiram durante após a leitura do texto.

    Confira abaixo a nossa sinopse:

    Mulher negra,
    Por que se esconde de mim?
    Será que busco em ti um retrato
    Como aqueles preto e branco
    Hoje, todos coloridos.
    Mulher negra
    O que há em ti?
    Que foge de meu olhar reducionista
    Mulher e outrora negra,
    Outrora lésbica, outrora albina
    Mulher negra
    Pensei em ti
    Mas ao abrir os meus olhos
    Aquele quadro que pintei
    Já não existia
    Mulher negra
    Se espalham, se multiplicam
    Dancem rap ou talvez nem dancem
    E este substantivo singular
    A aprisionar milhões de outras mulheres
    Poderiam estar nos terreiros
    Em quilombos
    Nas universidades
    Mas indago
    Me pergunto, onde estão
    As outras?
    Aquelas vozes
    que não foram habilitadas
    Mulheres negras
    São tantas, tão múltiplas
    Que me inquietam
    Sabe, as vezes me fazem calar
    Tenho medo de falar bobagens
    Quando me calo
    É para que as minhas palavras
    Não as sufoquem ainda mais!

    Cristiane Mare.

    SINOPSE

    EU VI DEUS, ELA É NEGRA!

    Vejo Asase Yaa, Samba Kalunga e Oyá a inspirar o protagonismo de mulheres da
    cor de ébano, a exemplo das guerreiras que lutaram contra a escravidão. A violência não
    foi somente física, mas, também, espiritual. Não bastava obter a força de trabalho em prol do projeto colonizador. A estratégia consistia em soterrar as memórias trazidas da mãe África, produzindo ESQUECIMENTO. A resistência se dava mesmo através de uma aparente sujeição, como na incorporação da religiosidade católica e a formação de
    irmandades de devoção mariana, nas quais as mulheres negras desempenhavam papel
    fundamental. As irmandades eram lugares de acolhimento e proteção aos irmãos,
    escravizados ou libertos. Solidariedade própria às sociedades africanas! Era como se, à
    sombra de um imponente Baobá, elas pudessem abrigar e cuidar de seus filhos, nutrindoos com a seiva da vida, o conhecimento ancestral. Palavra e ação em benefício das comunidades. “Egbé Gèlèdé”!
     

    EU VI DEUS, ELA É NEGRA!

    Sinto a dor dilacerante das minhas ancestrais, atadas a grilhões invisíveis, alijadas
    de exercer o direito à educação. Uma luta que é de gênero, mas, também, é de cor. A cor
    preta nunca ocupou espaço merecido na escala cromática das carteiras escolares no Brasil.
    Estudar, nessas condições, significou e continua a significar um ato de resistência. Nossas heroínas intelectuais desabrocham mesmo em terreno hostil! Várias são as mulheres negras representantes deste importante segmento, que abarca escritoras, educadoras e pesquisadoras que contribuem para o desenvolvimento do pensamento brasileiro. A palavra, aqui, é o canhão capaz de remover as barreiras erigidas pelo etnocentrismo, abrindo espaço para o avanço de uma legião de mulheres negras, ávidas em aprender para ensinar e, assim, transformar.

    EU VI DEUS, ELA É NEGRA!

    Ouço, por fim, vozes que falam e encantam, extravasando uma beleza singular,
    que transcende o físico, propagando-se por meio de ações engajadas dentro dos
    movimentos políticos, sociais e culturais. Inspiradas e inspiradoras, as Oxuns seguem
    ladrilhando o caminho para as novas gerações, dando-lhes o sentimento de pertencimento; afinal, representatividade importa, sim! O labor árduo e contínuo contra o preconceito faz vítimas, que morrem, mas vivem em cada uma que fica. Assim, progressivamente, os espaços vão sendo ocupados e ressignificados. Feministas, orgulhosas de suas origens, empoderam-se para empoderar, alimentando um círculo virtuoso que, almejamos, não tenha fim. Negras e belas mulheres, PRESENTES, sempre!
     

    Ideia original: Roberta Rosa;
    Pesquisa e texto: Leonam Lauro Nunes da Silva;
    Carnavalesco: Wagner Gonçalves.


    Referências Bibliográficas:

    ARRAES, Jarid. “Heroínas Negras Brasileiras – em 15 Cordéis”. São Paulo: Pólen, 2017.

    CABRAL, Sérgio. “Escolas de Samba do Rio de Janeiro”. São Paulo: LAZULI Editora / Companhia Editora Nacional, 2011.

    CENTRO CULTURAL CARTOLA. Dossiê “Matrizes do Samba no Rio de
    Janeiro – Partido Alto, Samba de Terreiro, Samba-Enredo”. Rio de Janeiro: Centro Cultural Cartola, 2015.

    CENTRO CULTURAL CARTOLA. “A Força Feminina do Samba”. Rio de Janeiro: Centro Cultural Cartola, 2007.

    COUTO, Mia. “A Confissão da Leoa”. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

    DAVIS, Angela. “Mulheres, Cultura e Política”. São Paulo: Boitempo, 2017.

    FERREIRA, Felipe. “O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro”. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

    GIASI, Yaa. O Caminho de Casa. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017.

    MÜLLER, Maria Lúcia Rodrigues. “A cor da escola – imagens da Primeira República”. Cuiabá: Editora da UFMT/ Entrelinhas, 2008.

    MUSSA, Alberto; SIMAS, Luiz Antonio. “Samba de enredo: história e arte”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

    NIGZI ADICHIE, Chimamanda. Meio sol amarelo. São Paulo, 2017.

    RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Femininos Plurais. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2017.

    SIMAS, Luiz Antonio; FABATO, Fábio. “Pra tudo começar na Quinta-Feira: o enredo dos enredos”. Rio de Janeiro: Mórula, 2015.



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