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Protesto na Mocidade Independente
Lucia Mello em 09 de Março de 2009
Rio - O penúltimo lugar entre as escolas de samba do Grupo Especial neste ano foi a gota d’água para que o movimento ‘Fora Paulo Vianna’ atravessasse os muros da Mocidade Independente de Padre Miguel. Neste fim de semana, ruas próximas à escola amanheceram com várias faixas, com mensagens que ‘pedem a cabeça’ do presidente da escola.
Associados e moradores de Padre Miguel querem a saída de Vianna antes do fim do mandato, que vai até 2011. O movimento pede ainda uma devassa nas contas da agremiação, que não estaria pagando aos funcionários desde o ano passado. O rombo nas contas da Mocidade supera os R$ 100 milhões, segundo os ‘revoltados’. Dezenas de funcionários estão sem os salários, entre costureiras, aderecistas e escultores da escola, que receberam cheques sem fundo.
O presidente da agremiação, chamado no protesto de “Inimigo nº 1 da Mocidade”, negou o atraso nos pagamentos de 2008, mas admitiu que os cheques não tinham fundo. “O repasse de algumas verbas chegou atrasado na Liesa (Liga das Escolas), mas vamos pagar logo. Eu vou processar quem está sujando o meu nome por aí”, disse Vianna, prometendo que os cheques poderão ser descontados amanhã.MUITO LONGE DOS TEMPOS DE GLÓRIA
Costureira diz ter virado noites no trabalho, mas não recebeu. “Ainda tenho que pagar a outras pessoas que me ajudaram. Quero receber pelos dias que dormi no chão do barracão para não atrasar as fantasias”, contou ela, que pediu para não ser identificada.
Coincidência ou não, nos últimos seis carnavais, cinco sob a gestão de Paulo Vianna, a melhor posição da Mocidade foram dois oitavos lugares. Nestes seis anos, foram seis carnavalescos diferentes. Com 71 anos, 48 dedicados à Verde-e-Branca, Benjamim da Silva Filho, o Seu Didiu, lembra com saudade dos áureos tempos em que a escola brilhava entre as melhores do grupo de elite do Carnaval: “A comunidade entrava na Avenida para ser campeã. Tínhamos os melhores sambas, as melhores fantasias e uma paixão que fez da Mocidade uma das mais tradicionais e respeitadas do Grupo Especial”.Cria da escola, Dudu Nobre lamenta fase
O cantor Dudu Nobre, cria de Padre Miguel, que já ajudou a empurrar carros alegóricos em plena Marquês de Sapucaí, faz coro com a comunidade: “Dói no coração ver a paixão da comunidade de Padre Miguel acabar junto com o brilho da estrela que a Mocidade carrega como símbolo”, disse.
O sambista e a irmã Lucinha Nobre, que durante anos foi porta-bandeira da escola, estavam na Mocidade nos melhores momentos da agremiação, como no campeonato conquistado em 1990, com o famoso samba ‘Vira, virou, a Mocidade chegou’, e no bi do ano seguinte, com ‘Chuê, chuá, as águas vão rolar’, ambos assinados pelos carnavalescos Renato Lage, atual campeão pelo Salgueiro, e Lilian Rabelo.
Para tirar a Mocidade desta fase negra, Dudu Nobre até arrisca um palpite: reeditar o samba de 1990 no Carnaval do ano que vem