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Mangueira divulga sinopse do Enredo para o Carnaval 2026
Redação em 03 de Junho de 2025
Agremiação vai levar para a Marquês de Sapucaí o enredo “Mestre
Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”,
enaltecendo as tradições afro-indígenas do Norte brasileiro por meio
de um dos seus mais célebres personagens
RIO DE JANEIRO - A Estação Primeira de Mangueira divulgou nesta
terça-feira (3/6) a sinopse de seu enredo para o Carnaval 2026. Com o
título “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia
Negra”, a Mangueira levará para Marquês de Sapucaí no próximo ano
a história e a trajetória do curandeiro, folião, marabaixeiro e defensor
dos povos da floresta, o amapaense Raimundo dos Santos Souza. A
leitura e entrega da sinopse foi realizada pelo carnavalesco Sidnei
França, responsável pela sua idealização, com pesquisa de Sidnei
França, Felipe Tinoco e Sthefanye Paz. A íntegra do texto (com
argumento e glossário inclusos) está disponível abaixo e no site
www.mangueira.com.br.
Com a entrega da sinopse, começa o processo da escolha do próximo
Samba-Enredo da Verde e Rosa, que termina com a Final em 27/9.
Confira abaixo a íntegra da sinopse, o calendário completo e a lista de
orientações, que também estão disponíveis nas redes sociais da
agremiação.
“O enredo da Mangueira extrai sua força das populações tradicionais,
reconhecendo e valorizando a sabedoria ancestral de uma de suas
figuras mais proeminentes, que personifica o espírito da Amazônia
Negra”, analisa o carnavalesco Sidnei França.
Confira abaixo o texto completo da sinopse.
Não há morte pra quem sonha
Vai o homem fica a lida
Enfincada na memória
Dos guerreiros da alforria
Êta negro moleque
Varou pelas matas
Conheceu as ervas e seus extratos
No toque da caixa dançou marabaixo
Foi momo, o rei desse carnaval
Êta negro da estrela qual Zumbi
É a luz do folclore do Amapá
É de zimba, batuque e sairé
É o nosso Xamã Babalaô
Saravá!
“Xamã Babalaô”, música de Enrico Di Miceli e Ricardo Iguarany
APRESENTAÇÃO
Seguindo a missão de exaltar as brasilidades em verde e rosa,
a Estação Primeira de Mangueira apresenta o enredo “Mestre
Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”,
enaltecendo as tradições afro-indígenas do Norte brasileiro
por meio de um dos seus mais célebres personagens.
Nessa épica saga amazônica, é momento da celebração do
Turé – ritual de agradecimento a seres de Outro Mundo.
Invocado por sua plenitude e em estado de encantamento,
Mestre Sacaca se manifesta espiritualmente para nos mostrar,
como em delírio catártico, sua gente, seu lugar, seus mistérios
e saberes. Eis a presença viva e vital do nosso Xamã Babalaô!
Tomada pela magia das matas, a Estação Primeira adentra a
floresta e apresenta o fascínio de quem leu, rezou e benzeu
as suas folhas, cascas, frutas e sementes. Curandeiro, folião,
marabaixeiro e defensor dos povos da floresta, esse ser
revive os seus caminhos de aprendizado e valorização da
identidade amapaense. Em glória, nosso herói reside na alma
do povo tucuju, como carinhosamente se denominam os seus
conterrâneos.
A Mangueira evoca a força das populações tradicionais para
beber da sabedoria ancestral de um dos seus maiores
expoentes, que nos guia e se revela como a própria Amazônia
Negra.
PRIMEIRO ENCANTO: TURÉ PARA O XAMÃ BABALAÔ
Estou no Turé e lhes conto que ainda não tocou o cuti porque
a dança não terminou. Pelo contrário, eu diria. Ela está apenas
começando. E está começando no Norte, onde o meu país
começa.
É no início dessa história que alastro as minhas raízes
brasileiras para esse ritual de agradecimento aos invisíveis do
Outro Mundo.
Sigo em movimento, mesmo plantada entre Sumaúmas que
fazem de mim, a quase centenária, aprendiz e mensageira.
Junto com as lahen, distribuo o caxixi na cuia do mesmo tipo
que veste as mulheres também trajadas de saia de buriti. A
festa acontece cercada de varas de madeira, no circular lakuh.
Eu, Mangueira, estou na floresta amazônica brasileira,
envolvida nesse transe.
Urucu, jenipapo e kumatê tingem a minha visão. São tons da
natureza que pintam desde as cuias que guardam o sabor do
beiju de mandioca até os enfeites criados com penas dos
peitos das araras, que se encostam nas cabeças daqueles que
festejarão os espíritos.
O pakará está posto para o líder pegar o maracá e os cigarros
de tawari. É hora da viagem. Jãdam têm nas mãos os seus
bastões e os palikás puxam os cânticos junto com o pajé. Os
sons das flautas e das buzinas de bambu se alastram junto às
palavras entoadas aos ancestrais. Um deles, especialmente,
veio nos ver. Eu estava aqui aguardando por ele.
A energia avassaladora toma o espaço e me faz confirmar:
não há morte para quem sonha. A presença dele é inegável
porque nunca deixou de ser. Já estava aqui, sempre esteve. E
agora, mais do que nunca, o Xamã Babalaô veio para nos
embrenhar nesse encanto tucuju que vive como só ele.
SEGUNDO ENCANTO: MERGULHO NAS AFLUÊNCIAS
As águas doces serpenteiam todo o território, espaço de
façanhas e atributos de tantos sentidos. Princípio de todo um
lugar, são o meio e o fim. A natureza em ação, carregando
histórias, tradições e segredos por caminhos tão barrentos
quanto extensos.
O Xamã Babalaô navega em um afluente do Uaçá, nada pelo
Rio Curipi, consolida seus laços históricos e hereditários com
os povos indígenas da terra tucuju. No curso das águas, visita,
aprende e confirma as sabedorias dos Galibi Kali'na, Galibi
Marworno, Karipuna, Palikur e Wajãpi. Assim como ele,
reconheço em mim a sua ancestralidade.
As correntezas nos levam por todos os lados, e as
comunidades quilombolas também dependem das águas.
Pelo Rio Jari, chegamos a diferentes povoados. Conversando
com os extrativistas e as mulheres que trabalham com as
castanhas, ele se comunica com aqueles que dividem uma
memória negra que eu também descortino.
Tudo se baseia nos rios: circulação, movimento, mitos, rituais,
vidas. Os ribeirinhos carregam conhecimentos profundos
desse universo e os recriam a cada milagre da maré. Se ela
desce, se ela sobe. Se está boa para ver um sumano. Se é
momento de pesca, se é tempo de rede.
Aqui, sobre o rio, tudo se sabe. Só há uma dúvida, alguns me
contaram, de seres de formas fantásticas e de outras
realidades, os quais, assim como o Xamã Babalaô, tocam as
nascentes e as profundezas. Nelas, é certa a companhia
distinta de animais e outras formas de energia.
O Xamã Babalaô entra na palafita amparada de palmeiras
buçu, relembrando as tecnologias e as invenções de seu povo,
além das místicas da sua gente. Contempla os regatões do
presente, o transporte dos sacos das farinhas e a alegria das
brincadeiras dos inocentes, que também lembram as minhas
crianças.
Atravessamos as vivências de quem boia, mexe e se banha de
um jeito só seu. Pelos rios, a poesia e o encanto se alastram
para entender a beleza de um lugar e um modo novo de se
viver que só quem viu o Amazonas sabe entender.
Os rios carregam de um tanto. Foram decisivos na vida do
nosso encantado e continuam sendo a base de muito o que se
conhece. Levam e trazem embarcações e seres, produtos e
família. A todo o tempo, gente e mistério.
TERCEIRO ENCANTO: O PODER DA CURA NA CIÊNCIA DO
ENCANTO
Se o rio foi o caminho para trocas, nessa saga, a floresta é
quem lhe entrega o dom. Ao emergir das marés amazônicas,
outras águas me fazem mergulhar nas histórias que
transformam o Tucuju em encanto. O Xamã Babalaô me
convida para um cenário de velhas chaleiras com infusões, em
que garrafadas são preparadas contra qualquer um dos males
que podem acometer quem ousa viver.
A sua existência, que um dia foi chamada de Doutor da
Floresta, agora é revivida ao compartilhar as receitas que
deixou no imaginário popular, nos estudos que viraram livros,
na voz ouvida pelas ondas difundidas pelo território e em
cada uma das memórias dos mistérios das ervas, carregados
por aqueles que dominam como ele a ciência do encanto.
Sementes, flores, folhas, cascas, seivas e um tanto mais que o
mundo dá permitem outras possibilidades de persistir entre a
dor e a cura, entre a folha e a oração. A floresta entrega
aquilo que revigora. Submete as pessoas à necessidade de
existir. Como também sou natureza viva que faz viver, sei o
que digo.
A medicina ancestral, fruto dos saberes indígenas e negros,
une-se aos murmúrios das matas. O sopro no ouvido de quem
está em Outro Mundo também dita os movimentos das mãos
daqueles que manuseiam um divino chamado natureza.
Não se enganem, são sagrados os segredos do cuidado.
Engarrafar a floresta é entender que os seus conhecimentos e
sabedorias são práticas de cura, desenvolvidas desde um
tempo muito antigo por quem ocupa essa terra desde
sempre. Entendimentos herdados das tradições orais
passadas de geração a geração. Crendices que misturam o
que é alcançado pelas mãos com as mandingas - práticas
invisíveis aos olhos - como ensinou um encantado Preto
Velho. Saravá!
Ele transforma esse extrato em banhos, chás, gargarejos e
unguentos. Simpatias, para quem tem fé, também dão certo.
Quebra quebrantos, faz criança andar, sujeito parar de beber
e mal de sete dias acabar.
Como fazia em outros tempos, o Xamã Babalaô pede licença
para adentrar as matas. Observa ao seu redor e parece falar
com aquilo que nem eu sei o que é. Pode ser feitiço.
Reconhece uma casca no chão, pega outras frescas, entende
que a troca com a natureza é vital. Reza, pede, intercede.
Respeita os ciclos. Extrai do ambiente o sustento para o seu
povo, demonstrando a riqueza da Amazônia: o que dela se
retira, o que com ela se faz. O que a ela se retribui, para
mantê-la e nos manter de pé.
QUARTO ENCANTO: OS TAMBORES RESSOAM
De pé na floresta, houve um chamado. Som e energia
reverberam pelo ar. Ondas de encanto. O Xamã Babalaô está
tão envolvido quanto eu quando ouço a subida do tamborim.
Continuo vendo a mesma natureza que observei nos
remédios de cura. As árvores que viviam nas garrafadas,
agora, são tronco oco de tambor. As sabedorias ancestrais
permanecem a base das manifestações que se apresentam a
nós.
Çai Erê, disseram alguns originários, até batizar a festa que
seria tocada com uma única baqueta, conforme mandam
outras celebrações dos donos daquela terra. No Sairé do
Carvão, contemplamos a síntese dos tucujus afro-indígenas.
Nos encantamos por ela, mas logo o Xamã Babalaô aponta
para a fogueira de esquentar couro e afinar as raízes do
Batuque. Dois tambores, o amassador e o dobrador. Dois
pandeirões. “Vieram lá de África”, escuto cochichar a
quilombola que puxa o verbo e solta as bandaias para
acompanhar o pessoal que senta nos macacaueiros presos às
peles de sucuriju.
As mulheres rodando e puxando vento com a barra da saia me
lembram outro movimento que vira o mundo ao anti-horário.
o giro e na gira do Marabaixo, salve o Divino Espírito Santo e a
Santíssima Trindade. E salve as energias que pairam naquele
toque, naquela circularidade, naqueles Mestres com quem ele
tanto conviveu.
Já vejo as minhas flores nas saias e nos cabelos das açucenas,
enquanto meu povo gargalha tomando gengibirra e
aprendendo os ladrões como o que fizeram para o Xamã
Babalaô, que volta para o cortejo da vida por meio dessa e de
outras canções. Atraído pelos ritmos que ressoam, cada um
mais forte do que o outro, passeamos pelos terreiros de
cultura, entre a Favela e o Laguinho. Vejo aquela gente e
aquelas salas como se do Morro fossem.
Nesses barracões, aprendo a saudar as matriarcas daqui que,
assim como as minhas, ensinaram que o certo é pela nossa
cultura se espalhar. Então, bora se requebrar, preparar para
muito gingado, porque quando os tucujus e os mangueirenses
dançam os mundos se movem. Xamã Babalaô, marabaixeiro,
sempre soube e sempre saberá.
A virada da caixa que arrepia ganha outros contornos
históricos para além da dança que um dia foi de lamento. Em
Mazagão Velho, a Festa de São Tiago ecoa um toque de
guerra que também é toque de gente que aprendeu a
transformar a sua história em batuque e festejo. Com o som
do Vominê, escolhemos máscaras para sermos travessos e dar
um rádio em quem puder.
Essas sonoridades misturadas em diferentes batidas, chegam
ao Encontro dos Tambores, e atraem nosso invisível para mais
uma festividade.
Dos instrumentos do Zimba do Cunani aos atabaques das
macumbas amapaenses, do carnaval em que foi Rei aos
músicos contemporâneos… O Encontro dos Tambores
intensifica os sons e os sentidos para tratar das vibrações
particulares que definem uma espiritualidade amazônica.
As percussões confundem espaço, tempo e religião. Pelo
compasso do tambor, a igreja é o terreiro, o ontem é hoje, o
amanhã é agora. Tudo entra em espiral.
Na Missa dos Quilombos, o Xamã Babalaô retorna batendo
caixa como quem firma chão. Lá, oração também se dança.
Sem precisar de permissão, os corpos não se contêm. Aqueles
toques também são ancestrais, pois redefinem as condutas
de um povo de um jeito libertário. Mães de santo participam
da missa como coroinhas, as ofertas viram frutas e oferendas
e um mundo novo, fundado por ele, pareceu ter sido criado
diante de nós. A entidade adentra o culto sem espaço para
divisas.
Ele encontra na rítmica tucuju a mesma força espiritual
presente em suas curas. Como uma bateria, esses sons fazem
o coração pulsar em sanidade, tratando do passado da nossa
gente. Preservam e reescrevem histórias dos encantos e das
realidades vastas. O tambor celebra.
QUINTO ENCANTO: O GUARDIÃO DA AMAZÔNIA NEGRA
Na saga do Xamã Babalaô – invocado no Turé, navegante das
afluências, engarrafador das florestas, pulsante nos tambores
– eu vislumbro a incessante busca de plantar o eterno. Ele se
transforma no que faz a Amazônia viver, tornando-se a
própria identidade tucuju.
O Xamã Babalaô é o que ficou. Ao tocar o chão da floresta,
dos barrentos, dos quilombos, dos barracões, das missas,
nosso ser se conduziu a ser ele mesmo os elementos que
revelam quem o seu povo é. Torna-se múltiplo, sem limitar a
vida a um corpo ou a uma única forma, como só sabem fazer
os que conhecem os encantos da terra.
Imponente, ergue-se nos mastros, prática cultural de origem
negra. Seja nas bandeiras dos Marabaixos ou das minhas
coirmãs escolas de samba, segue em haste afro-brasileira,
coluna de memória que desafia o tempo e as tentativas de
apagamento. No lenço que balança alto, ele se transforma em
objeto que anuncia as festas de sua Amazônia. Preso na murta
ou no pavilhão, dança com o vento e sussurra histórias que
não podem ser esquecidas.
Resiliente e vigoroso, manifesta-se no cipó de titica, fibra que
amarra parte do mundo e sustenta o fazer. Enlaça casas,
objetos de pesca, redes e segredos com a firmeza do valor da
raiz. Nele, o Xamã Babalaô tece seu nome torcido no trançado
do tempo.
Leal em seus valores, exalta a potência feminina e o
matriarcado que tanto conheço. Mergulha no barro de
Maruanum, em que as mãos negras das louceiras moldam
moringas, panelas e presenças daquela a quem se pede
licença.
A Vovó do Barro recebe o encantado que se dissolve na argila
e ressurge em forma de artefato. Cada peça é uma oração
queimada no forno daqueles saberes.
Escorre no açaí que mancha mão e boca com o roxo atinado.
O Xamã Babalaô vive no sabor do fruto do sustento
amapaense. Está nos dedos que botam o caroço no paneiro,
no remanso da peneira, na garganta que se tinge com gosto
de floresta. É sangue da terra.
Reaparece nos olhos da onça, bicho grande, dono da mata.
Espreita silencioso, passeia firme, guarda os caminhos.
Ameaçada, é a onça o espírito da floresta em regime de
alerta. O Xamã Babalaô estampa agora pelagem e coragem.
Está na pisada leve e na força que pode até não se ver mas
que se sente. Quem cruza com ele sabe: há algo mais ali, um
fundo que escapa à vista e mora no pressentimento.
No flerte com o eterno, o Xamã Babalaô se planta como
amapazeiro. Árvore mãe, árvore nome, árvore estado.
Declama no silêncio da terra úmida e se ergue em galhos que
se expandem, sombra que conforta, seiva que cura pelo lugar
todo. Faz-se tronco, folha, semente e eternidade. Não partiu,
enraizou-se onde tudo começa e recomeça. Ele é a natureza.
À natureza, ele retorna. Na sua Amazônia de floresta em pé,
ao meu lado, encerra uma saga que é símbolo de uma
identidade nacional que tem sabor, cheiro e textura das
memórias do meu Norte.
Ao findar do transe xamânico, pairam no ar essências que nos
entregam o frescor do Brasil. Do sumo daquilo que melhor
poderia se macerar das terras profundas do nosso país. Das
terras do nosso Xamã Babalaô do Encanto Tucuju. O guardião
de toda essa amapalidade, de toda essa Amazônia também
negra, de toda a Mangueira!
Enredo e Pesquisa:
Sidnei França, Sthefanye Paz E Felipe Tinoco
REFERÊNCIAS
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Calendário da Disputa de Samba-Enredo
CONCURSO DE SAMBA-ENREDO
Datas de tira-dúvidas no barracão:
16/6 – segunda-feira – das 17h às 20h30
23/6 – segunda-feira – das 17h às 20h30
30/6 – segunda-feira – das 17h às 20h30
O carnavalesco Sidnei França (equipe) estará à disposição das parcerias
para tirar as dúvidas nas datas acima das 17h às 20h30.
Datas de tira-dúvidas obrigatórios com audição do samba:
07/7 – segunda-feira – a partir das 16h
14/7 – segunda-feira – a partir das 16h (caso necessário)
21/7 – segunda-feira – a partir das 16h (caso necessário)
A parceria de compositores que quiserem inscrever os sambas no Concurso
da Estação Primeira de Mangueira – Carnaval 2026, deverá participar do
tira-dúvidas nas datas acima.
As parcerias deverão marcar com o presidente da Ala de Compositores sua
presença no dia 7/7, para o tira-dúvidas obrigatório com audição do samba.
Contato do Presidente da Ala de Compositores:
Domenico
Tel: (21) 98782-2006
As duas datas de tira-dúvidas após o dia 7/7 podem acontecer ou não,
dependendo da quantidade de sambas e da aceitação da Escola. Nos dias de
tira-dúvidas com audição, o samba será apresentado individualmente para a
presidente, diretor de Carnaval, carnavalesco (equipe), comissão de
Harmonia, mestre de Bateria e direção Musical.
Cada samba será cantado no 4º andar do Barracão individualmente, por até 3
intérpretes, 1 cavaco e 1 violão, acompanhados por instrumentos de
percussão definidos pelos mestres de bateria.
Após o último tira-dúvidas no dia 21/7, os compositores receberão a
autorização para realização da gravação do samba. Os sambas somente
poderão ser gravados após autorização da Estação Primeira de Mangueira.
As parcerias farão a inscrição dos sambas no Barracão, no dia 15/8, das 15h às
20h. No ato da inscrição, as parcerias entregarão a gravação em áudio e/ou
vídeo, com 30 cópias da letra. Serão permitidos até 6 compositores por
parceria de samba. Não haverá taxa de inscrição para o Concurso.
A Estação Primeira de Mangueira divulgará todos os sambas em concurso no
dia 17/8 (domingo). É proibido que as parcerias divulguem seus sambas antes
do dia 17/08.
Datas do Concurso na Quadra:
30/08
06/09
13/09
20/09 – Semifinal
27/09 – Final
Apresentação na Quadra até a Semifinal do Concurso:
Não serão permitidos fogos indoor.
Não serão permitidas bandeiras, cachos de bola e bolas de gás.
Não serão permitidos adereços de mão.
Não serão permitidos grupos de encenação.
Apresentação no palco até a Final do Concurso:
Serão disponibilizados 6 microfones para os intérpretes.
Serão disponibilizadas 4 entradas para Harmonia Musical.
Serão permitidos somente os instrumentos extras cavaquinho e violão na
Semifinal e Final.
SOBRE A ESTAÇÃO PRIMEIRA DE
MANGUEIRA:
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação
Primeira de Mangueira (ou simplesmente
Estação Primeira de Mangueira) é uma
tradicional escola de samba brasileira da cidade
do Rio de Janeiro conhecida e admirada em
todo o planeta. A agremiação, que tem nas suas
cores (verde e rosa) uma de suas marcas
registradas, acumula 97 anos de glórias e de
histórias e é uma das mais importantes
instituições culturais do Brasil. Seus símbolos, o
surdo, a coroa, os ramos de louros e as estrelas
podem ser vistos na bandeira da escola. Tornou-
se um celeiro de bambas que despontou e
inspirou lindas obras decantadas em todo o
mundo. Foi fundada em 1928, no Morro da
Mangueira, pelos sambistas Carlos Cachaça,
Cartola, Zé Espinguela, Tia Fé, Tia Tomásia, entre
outros. Sua quadra está sediada no bairro do
mesmo nome. Detém vinte títulos do carnaval.
Atualmente, é presidida por Guanayra Firmino,
primeira mulher eleita presidente da Mangueira.
(https://mangueira.com.br/)
Glossário
AÇUCENAS
Dançarinas do Marabaixo, que utilizam saias rodadas com motivos florais,
flores nas cabeças e rodam em sentido anti-horário, seguindo os músicos
que tocam durante essa manifestação;
AMAPALIDADE
Sentimento específico daqueles que reconhecem um estilo de vida e um
jeito de viver dos amapaenses;
AMASSADOR E DOBRADOR
Tambores utilizados na manifestação cultural do Batuque;
BANDAIA
Cantigas realizadas durante o Batuque;
BATUQUE
Festividade afro-brasileira muito praticada nos Quilombos do Amapá, que
se utiliza de danças, canções e instrumentos próprios;
BARRACÃO
Salas de casas ou centros culturais de herança familiar em que ocorre parte
significativa dos festejos de Marabaixo, inclusive na produção e realização
dos alimentos e bebidas típicas dessa manifestação;
BEIJU DE MANDIOCA
Alimento feito a partir da goma de mandioca, base para a preparação do
caxixi;
BURITI
Fruto de tons alaranjados e avermelhados derivado de uma palmeira e
utilizado como matéria-prima na confecção de roupas utilizadas no Turé;
CARVÃO
Distrito de Mazagão onde se localiza o Ponto de Cultura Sairé do Carvão,
com praticantes do Sairé;
CAXIXI
Bebida alcoólica feita a partir da fermentação da mandioca, utilizada pelos
pajés para acessar o Outro Mundo;
CURIAÚ
Nome dado a um rio amapaense e a um quilombo que fica ao seu entorno,
sendo um dos mais tradicionais da região e o segundo brasileiro a ser
certificado pela Fundação Palmares;
CURIPI
Nome dado a um rio amapaense localizado na região do Oiapoque;
CUTI
Buzina que se toca no intervalo da dança do Turé, geralmente feita de
bambu;
CUNANI
Região quilombola localizada no literal norte do Amapá, conhecida pela
prática do Zimba;
DAR UM RÁDIO
Fazer uma reclamação com alguém;
ENCONTRO DOS TAMBORES
Evento que tem como base a vasta musicalidade dos tambores de
diferentes manifestações culturais e religiosas do Amapá. Mestre Sacaca é
um dos seus fundadores. No Encontro, ocorre também a Missa dos
Quilombos;
FAVELA E LAGUINHO
Os dois principais bairros negros de Macapá, a capital do Amapá. Foram
ocupados pela população retirada da área central da cidade, inclusive por
lideranças culturais, como Mestre Sacaca;
FESTA DE SÃO TIAGO
Festa com mais de 240 anos de tradição, realizada no Mazagão Velho
durante o mês de julho, em que ocorrem diferentes atos de encenação da
batalha entre mouros e cristãos;
GALIBI KALI'NA
Povos indígenas concentrados principalmente na região do Oiapoque, na
terra indígena Galibi Kali'na;
GALIBI MARWORNO
Povos indígenas concentrados principalmente na região do Oiapoque, nas
terras indígenas Uaçá e Juminã;
GARRAFADA
Prática associada à medicina ancestral, com a formulação de receitas com
uso de produtos naturais, como plantas, ervas, cascas e bebidas específicas
que compõem um remédio. Difundidas e utilizadas por Mestre Sacaca
durante a sua vida;
GENGIBIRRA
Bebida alcoólica típica dos festejos do Marabaixo, feita principalmente com
gengibre, que tem princípios anti-inflamatórios que protegem as gargantas
dos marabaixeiros que cantam e festejam noite adentro;
JÃDAM
Homens ajudantes do pajé, que utilizam de bastões nas mãos e são
responsáveis pela manutenção das regras do Turé;
JENIPAPO
Fruto aplicado na produção de tintas naturais utilizadas durante o ritual do
Turé;
JARI
Nome dado a um rio que cruza diferentes regiões, inclusive quilombolas,
do Amapá;
KARIPUNA
Povos indígenas que vivem em diferentes regiões, próximas ao Rio Curipi e
no Oiapoque, nas terras indígenas Uaçá, Juminã e Galibi Kali’na;
KUMATÊ
Líquido extraído da casca da árvore de Azuazeiro aplicado na produção de
tintas naturais utilizadas durante o ritual do Turé;
LADRÃO
Canções entoadas durante o Marabaixo, com versos de improviso e letras já
tradicionais, que têm como objetivo expressar críticas, elogios,
agradecimentos, lamentos ou até mesmo sátiras sobre o cotidiano da
comunidade amapaense. Em uma das versões sobre a origem do nome
dessas letras, denomina-se ladrão porque elas “roubam” os fatos da
realidade para transformar nessas cantigas;
LAHÉN
Mulheres ajudantes do pajé, responsáveis por servir o caxixi durante e
antes do Turé;
LAKUH
Local em que o Turé é realizado, em uma estrutura circular cercada de varas
de madeira decoradas com algodão e ligadas por fios nos quais são presas
penas brancas de garça;
MACACAUEIRO
Árvore utilizada para fazer diferentes instrumentos, como os tambores
utilizados no Batuque;
MAL DE SETE DIAS
Expressão popular para se referir ao tétano em recém-nascidos. Em um dos
seus livros, Mestre Sacaca descreve uma simpatia para combatê-lo;
MARABAIXO
A principal manifestação cultural do Amapá. De origem afro-brasileira,
possui uma ampla agenda que começa no mês de abril e termina em junho.
Associa-se ao afrocatolicismo e à cultura negra do estado. Seu nome é a
junção das palavras “mar a baixo”, relacionando-se ao processo de
escravização e do tráfico negreiro. Pode se referir tanto às ondas dos
navios que traziam as populações sequestradas (que oscilavam entre o mar
acima e o mar a baixo), quanto à queda de alguns dos escravizados (mar a
baixo). Por isso, ficou primeiramente reconhecida como uma manifestação
de lamento. Hoje, embora traga toda essa ancestralidade, é vista como
uma prática celebratória;
MARUANUM
Comunidade quilombola do Amapá, reconhecida por preservar tradições
relacionadas ao barro, manuseado por suas louceiras com uma técnica
específica para a produção de peças como panelas, formas, alguidares e
jarros;
MAZAGÃO VELHO
Distrito do município de Mazagão, para onde foram trazidos os habitantes
de uma antiga colônia portuguesa situada no Marrocos. Mazagão se tornou
uma cidade com diferentes práticas culturais e festejos associados a essa
herança moura;
MISSA DOS QUILOMBOS
Expressão utilizada para se referir a diferentes manifestações
afrocatólicas, e aqui associada à prática de uma missa que se utiliza de
saberes e características afro-brasileiras no Encontro dos Tambores,
realizado no Amapá. Mestre Sacaca participava desse encontro de
tolerância religiosa, sendo um dos seus grandes incentivadores;
Murta – Planta semelhante a arbustos, retirada da natureza em uma das
etapas da agenda do Marabaixo, conhecida como Cortejo da Murta, e
utilizada para fazer o levantamento do mastro;
OUTRO MUNDO
Denominação dada para o local em que habitam seres “invisíveis”, que
dividem a existência com os humanos, mas que, durante o Turé, só podem
ser vistos pelos pajés;
PAKARÁ
Cesto em que o pajé guarda os seus objetos importantes para o ritual do
Turé;
PALAFITA
Estrutura de elevação de casas, geralmente feitas de troncos, em uma
tecnologia muito utilizada pelos povos ribeirinhos devido à oscilação das
marés dos rios;
PALIKÁS
Homens ajudantes do pajé, responsáveis por apoiá-lo nos cânticos durante
o Turé;
PALIKUR
Povos indígenas concentrados principalmente na região do Rio Urukauá,
um dos afluentes do Rio Uaçá, na terra indígena Uaçá;
REGATÃO
Modelo de comércio fluvial, em barcos com diversificados produtos para
venda na região amazônica;
SACACA
Intitulação indígena associada a pajés ou xamãs, detentores de grandes
saberes e responsáveis pelas curas dos seus povos. Na Amazônia, tornou-se
uma forma popular de se referir a um líder de suas comunidades,
geralmente associado ao cuidado e à sabedoria compartilhada. Também é
o nome de uma planta utilizada em diferentes garrafadas;
SAIRÉ
Manifestação cultural de origem católica e indígena, iniciada nas missões
religiosas amazônicas, e que hoje é praticada fortemente no município de
Carvão, no Amapá. A origem do nome é de uma saudação indígena, Çai Erê;
SUMANO
Adaptação da expressão “mano”, para se referir com intimidade e afeto a
amigos ou colegas;
SUMAÚMA
Árvore conhecida como “rainha da Amazônia”, “árvore da vida” ou “escada
do céu”, devido ao seu tamanho e à sua beleza impactantes;
TAWARI
Planta utilizada como base dos cigarros do pajé durante o ritual do Turé;
TURÉ
Ritual indígena presente no Oiapoque, município do norte do Amapá, em
que se festeja e celebra os espíritos do Outro Mundo;
TUCUJU
Um dos primeiros povos originários da região hoje reconhecida como
Amapá. Tornou-se uma expressão sinônima de “amapaense”, para
qualificar aquilo que é do estado. Muito difundida na canção “Jeito Tucuju”,
de Joãozinho Gomes e Val Milhomem;
UAÇÁ
Nome dado a um rio amapaense localizado na região do Oiapoque;
UNGUENTO
Medicação realizada com elementos naturais, semelhante a pomadas;
URUCU
Fruto de tons avermelhados e alaranjados, aplicado na produção de tintas
naturais utilizadas durante o ritual do Turé e por diferentes povos
indígenas. Também conhecido como Urucum;
VOMINÊ
Manifestação presente na Festa de São Tiago, representando a batalha
entre cristãos e mouros, que se utiliza o instrumento caixa em alusão às
caixas de guerra;
VOVÓ DO BARRO
Como algumas integrantes do Quilombo do Maruanum se referem a uma
divindade idosa que é associada ao barro e às suas propriedades;
WAJÃPI
Povos indígenas concentrados principalmente no noroeste do Amapá, na
terra indígena Wajãpi;
ZIMBA
Manifestação cultural afro-brasileira que envolve dança, canto e
instrumentalidade, presente em diferentes estados do Norte, inclusive na
comunidade do Cunani, no Amapá.