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  • Confira entrevista com Carlinhos Coreógrafo, uma das estrelas do Salgueiro

    Lucia Mello em 20 de Fevereiro de 2009

    Carlos Borges, de 39 anos de idade, é morador do Morro do Andaraí. Leva uma vida modesta. O que o difere de Carlinhos Coreógrafo, 20 anos de samba e de Salgueiro, é a identificação do nome artístico à excelência da dança do samba. Excelência que o levou à Itália, onde vive por seis meses, todos os anos, apresentando-se em espetáculos de samba, e à Rússia.

    Vencedor de vários prêmios, incluindo o 'Tamborim de Ouro', Carlinhos Coreógrafo é um passista que impressiona pela sua presença cênica. Este ano, virá no início da  escola, à frete de um grupo de passistas que representará o Maculelê.

    Carlinhos Coreógrafo exerce outras funções na escola. Entre elas, a de ensinar às mulheres que pousam nas escolas de samba a não fazer feio na avenida. Nesta entrevista, realizada numa academia de ginástica, nos intervalos dos exercícios de musculação, ele falou de sua vida e de sua carreira.   

    Como você começou no samba?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Saí pela primeira vez na “Alegria da Passarela” há mais ou menos uns vinte anos. A Alegria da Passarela é o embrião da “Aprendizes do Salgueiro”. Amigos me convidaram para sair numa ala.Como me destaquei, no ano seguinte já estava montando uma coreografia. Minha mãe, com preocupação natural, me afastou durante algum tempo da escola, mas em 1996 fui torcer por um samba no Salgueiro na quadra. Fui chamado e aprovado para um teste de passista.
     
    O Salgueiro é uma escola que possui, em sua história, passistas famosos ( Paula, Irmãs Marinho, Dámásio, Narcisa etc). Você, que ganhou todos os prêmios como passista, sente-se um legítimo representante dessa linhagem? E qual a importância do passista hoje?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Luto muito para representá-los,me sinto representante desta linhagem, sim, embora não sei se eles sentem isso de mim. Acho importantíssimo resgatar o samba. Os passistas são uma das poucas tradições que ainda mantêm o samba. Não sou contra a evolução, muito pelo contrário, mas os fundamentos devem ser mantidos. Uma escola de samba não é escola de samba sem uma ala de passistas, embora esta não valha pontos.
     
    Você tem algum passo característico que o diferencie dos demais passistas?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Tenho uma maneira muito emocional, e é isso que me diferencia. Tenho presença cênica.
     
    Você desempenha outras funções no Salgueiro? O que faz na escola?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Sou diretor da ala dos passistas e, desde que entrei na escola, coreógrafo. Sou o produtor dos shows que o salgueiro apresenta,ajudo o mestre sala e a porta bandeira,crio a movimentação das baianas e, além disso, sou o coreógrafo da comissão de frente da escola mirim. Tenho de agradecer e muito à presidente Regina Duran, que, logo após eu chegar de Moscou, anunciou que eu deixaria de ser passista para ser o destaque de chão da escola. Sou muito grato a essa mulher guerreira que me apadrinhou e respeita.

    Você é conhecido pela rigidez nos ensaios. Essa disciplina é necessária em escola de samba? O que você exige?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Sou exigente demais, luto pela perfeição.Para que isso aconteça, dou bronca mesmo. É difícil no começo aceitar essa disciplina herdada do ballet. Mesmo assim, quando sai o resultado do carnaval, meu trabalho é reconhecido. Só fico chateado quando me rotulam de“grosso”, sem saber o trabalho que estamos desenvolvendo. No final acho que estou conseguindo o que acho bom.
     
    Como é sua relação com o diretor de carnaval e o Carnavalesco? Sua exposição na mídia lhe rende problemas de ciúmes?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Meu relacionamento com o Tavinho, atual diretor de carnaval, é maravilhoso. Ele me apóia, me ajuda nas minhas maluquices e inovações, me dá toques e lapidadas. É uma pessoa muito profissional. Ganhei prêmios e não fui esquecido, isso só me acrescentou; mas é claro que sempre rola um “olho grande”, mas nunca da parte da escola. Quanto ao Renato Lage, acho-o um gênio do carnaval.
     
    Sua resposta é interessante. Costuma-se dizer que o passista não é uma figura muito benquista pelos diretores de carnaval. Eu me lembro de um ex-diretor que, à época que estava comandando o Salgueiro, disse, durante um ensaio técnico, que você estava querendo aparecer demais. O que acha desses comentários?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Digo a essa pessoa que somos o verdadeiro carnaval. Somos cobradosdo primeiro ao último ensaio. Agora, se temos destaque e surge esse comentário, é porque estamos arrasando. Se fosse um artista e não uma pessoa da comunidade, duvido que ele dissesse isso. Eu sou artista, mas sou artista da minha escola.
     
    O ritmo atual do samba permite aos desfilantes sambar?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Quem é passista tem de seguir as tendências, cada um com seu estilo, mas tentando acompanhar as mudanças que são normais.
     
    Você já ensinou muita gente com pretensões à celebridade (madrinhas , musas e pseudo famosos). O que acha dessas mulheres que desfilam apenas para aparecer?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Se a pessoa trabalha para desfilar acho válido; mas para quem aparece na hora, não. Tudo depende do ensaio e do amor ao carnaval. Há pessoas da comunidade que não ensaiam, não comparecem, não vivem a escola - o que torna relativo esse conceito geográfico de comunidade. Temos de acabar com esse preconceito. Temos de lutar pela escola. Isso é que faz a diferença. O grande exemplo é a nossa madrinha Viviane Araújo que, mesmo não tendo nascido no Morro do Salgueiro, é adorada pela escola e pela bateria. Pela sua simpatia e pelo samba no pé  - e, principalmente, pela sua presença onstante na escola. Já dei aulas para Carol Castro, Mirela , Nívia Estelmal , Wania Love, Sabrina Sato, entre outras, e posso falar que todas elas foram muito determinadas e competentes.
     
    Você ganha dinheiro com o carnaval?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Ganho. Mas vivo para o carnaval. não sou mais um mero componente.
     
    O que acha das coreografias das comissões de frente? Não são teatralizadas demais?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Comissão de frente tem de mostrar o enredo mas não pode perder a essência, afunção de apresentar a escola, não precisa ser tão teatral. Virou uma competição de academias de dança.
     
    Sente-se reconhecido?
     
    Carlinhos Coreógrafo - Sinto-me um guerreiro. Valeu muito a pena. Graças ao samba, visitei outros países. E muita emoção, para que lutou tanto, ser reconhecido comouma figura do carnaval. Cheguei à Ìtália e, lá, me reconheceram. Isso, para alguém que não é artista de novela, vale muito -  e devo isso ao samba.



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