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  • A história do samba e do Carnaval ganharam destaque no CCBB RJ

    Lucia Mello em 19 de Outubro de 2011

    Com avaliações de Nei Lopes e Maria Augusta
    O Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, realizou ontem o penúltimo encontro – intitulado ‘A primeira batucada’ – do seminário ‘Carnaval, que festa é essa?’, série de debates iniciada em maio, um grande panorama dos assuntos relacionados à nossa maior festa. Atentos às palavras do sambista Nei Lopes e da pesquisadora Maria Augusta, bem como do jornalista Fernando Molica, mediador da mesa, o público participou de um profundo mergulho na história do samba, para conhecer mais sobre suas influências e refletir a respeito de seu futuro.
    Na sua palestra inicial, a pesquisadora, folclorista e carnavalesca Maria Augusta viajou ao passado mais remoto para analisar as origens do Carnaval. A partir de estudos mitológicos e da estrutura psicológica do ser humano, ela comparou o ciclo da folia ao da natureza, deixando claro, inclusive, os motivos que fizeram da data um período libertino, sexual e de renascimento: “O carnaval é um rito de passagem para a fecundação da Terra, das fêmeas, é o momento de acasalamento e, por isso, ainda nas sociedades primitivas, as mulheres eram estimuladas a erotizar. Tudo é permitido, tudo é válido para o nascimento de novos bebês, até comer, em abundância, alimentos ricos em gordura, como a manteiga, que eram muito caros. Vem daí, aliás, a explicação para a denominação Terça-feira Gorda”, contou.
    Já o sambista Nei Lopes, autor da ‘Enciclopédia brasileira da diáspora africana’, comentou que, segundo relatos históricos, as primeiras batucadas ocorreram nos navios negreiros: “Eram viagens de muitos dias, às vezes meses, e o povo lá embolado no porão precisava alongar o corpo, o que acontecia no convés, ao som dos tambores. Mas o samba nasceu mesmo na Bahia, onde há, inclusive, muitas variantes do gênero. Mas foi no Rio que se aclimatou bem e ganhou as feições que hoje ostenta”, declarou ele, lembrando também os diversos significados e interpretações da palavra samba em países como Angola, Haiti, Bolívia (onde o nome do ritmo se escreve com ‘z’) e no Sul dos EUA, endereço de uma grande comunidade negra.               
    Com base em alguns estudos e eventos, o cantor e compositor traçou ainda um histórico do samba a partir da década de 1920, quando o gênero, segundo ele, ganhou status de canção popular: “Entre os anos 1920 e 30 ficou nítida a dualidade do samba, ou melhor, sua divisão em samba de rádio e samba de morro, onde, aliás, teve origem a escola de samba. Entre 1930 e 40, o samba de rádio alijou o samba de morro. O fortalecimento dos diversos estilos de samba aconteceuu entre 1940 e 50, enquanto entre 1950 e 60 surgiu a bossa nova, o dito samba sem polirritmia e feito para ouvidos estrangeiros, que ganhou espaço de forma avassaladora. Desta forma, entre os anos 1960 e 70, apareceram correntes nacionalistas formadas em razão da consciência crítica, que estavam esnobando algo significativo em termos de identidade brasileira. Esta é a década também dos inesquecíveis sambas-enredo que, entre 1970 e 80, conhecem seu auge na venda de discos. Já entre 1980 e 90 chega o pagode de fundo de quintal, revolucionário como a bossa nova, e, por fim, na década passada, o pagode mais popular ganha as periferias, enquanto o samba fica Cult, sendo vendido em livrarias e charutarias”.
    Preocupado com o que chamou de ‘cultização do samba’, Nei Lopes salientou que é preciso ouvir samba o ano inteiro e que o gênero musical vive sem as agremiações carnavalescas. Para ele, entretanto, as escolas de samba precisam incentivar a produção da música, principalmente, a fim de não permitir a setorização do gênero de maneira espaço-temporal, como se o ritmo só pudesse existir num determinado período e em local específico. Outra preocupação, destacou finalmente, está voltada para o futuro do partido-alto e para a estigmatização do samba, ressaltando que muitos o enxergam como “coisa de velho, de pobre e de preto, em parte por culpa da mídia e das grandes corporações”. 
    Encerrando a noite e os questionamentos da plateia, Maria Augusta sustentou que ninguém faz festa como os brasileiros, lembrando que há Carnaval em vários países. Para ela, o desfile das escolas está na moda, mas, de fato, o povo carioca é detentor não só de simpatia inquestionável como de qualidade musical, fatores que atraem os olhos do mundo para o Rio de Janeiro durantre os festejos de Momo.      
      



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