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  • A Em Cima da Hora apresenta o enredo para o Carnaval 2025: "Ópera dos Terreiros - O Canto do Encanto da Alma Brasileira"! Ópera de Aldo Brizzi e Jorge Portugal.

    Redação em 30 de Abril de 2024

    Confira a sinopse.

    GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA EM CIMA DA HORA

    CARNAVAL 2025

    ENREDO:

    ÓPERA DOS TERREIROS – O CANTO DO ENCANTO DA ALMA BRASILEIRA

    Argumento:

    A realidade pungente em nosso país a respeito do preconceito racial, é ainda uma ferida

    intensamente viva, expondo o que há de mais desumano e irracional na humanidade, e por

    consequência, corrobora na desigualdade, no ódio e na intolerância. Tão dura e cruel realidade

    não conseguiu apagar por completo a ascendência e a identidade dos povos que foram

    sequestrados de sua terra, separados da sua gente, da sua família e de tudo mais que os

    dignificavam. E, ainda que aportando nestas terras como escravizados, buscaram construir

    meios e formas de permanecerem ligados a sua origem, a sua essência, transcendendo à dor e

    ao sofrimento, em nome da sua verdadeira ancestralidade.

    Reconstruir uma genealogia cultural que mantivesse ligações com sua terra natal ainda é

    tarefa que perdura desde a longa travessia entre a África e o Brasil. Mesmo à revelia das dores e

    limitações que os envolveram, eles assim o fizeram. Cantaram seus cantos de fé, dançaram

    para seus santos, irmanaram-se, lutaram por liberdade, assentaram seus terreiros, criaram

    ritmos e laços de irmandade, construíram pontes através da arte e da cultura, buscaram seus

    espaços, firmaram seu ponto, fizeram-se luz onde havia ignorância e fé a quem temesse por

    justiça.

    Trazer para o palco do carnaval o enredo sobre a Ópera dos Terreiros é fazer jus a toda

    jornada do povo preto, partindo da primazia do pertencimento e da ancestralidade, que ganham

    novas formas de demonstração e que vão conquistando novos espaços e palcos através da arte,

    como o canto erudito e operístico. Isso enaltece os distintos povos que para cá vieram para além

    dos Bantos e Nagôs. E reforça as infinitas possibilidades de que o negro, com sua cultura, pode

    chegar a lugares inimagináveis no Brasil e no mundo.

    A Ópera dos Terreiros é o ponto de partida para uma reconexão ancestral pelo prisma da

    cultura e da fé, genuinamente alicerçada em Salvador, na Bahia de todos os santos, casa

    primeira, terra primeira fora do seu habitat. Com toda a resistência e com todo o axé,

    construíram o seu espaço de pertencimento, seus costumes e sua forma de ser no mundo. Com

    sua identidade e empoderamento preto, fazem-se presentes, tornando protagonistas em todos

    os terreiros em que vier a pisar, gestando, assim como representado na ópera, os filhos seus,

    um Brasil do futuro. Um novo Brasil. Um Brasil novo!

    Salve o canto negro para além da dor e do sofrimento!

    Abram-se os caminhos para o canto negro passar!

    Justificativa:

    O carnaval e as escolas de samba possuem entre muitas funções o papel de

    mantenedoras e produtoras de cultura. E sua cultura é negra por essência. Sua matriz é africana

    e porque não dizer, baiana também.

    O Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora traz para o seu carnaval a

    Ópera dos Terreiros, obra pertencente ao roll de espetáculos do Núcleo de Ópera da Bahia,

    instituição que promove a representação da cultura negra em sua ancestralidade dando o

    protagonismo aos seus atores/cantores, contribuindo para o descortinar de histórias que

    guardam signos sagrados e transmitem a essência de um povo.

    A união entre o erudito e o popular não é em si uma novidade, mas rara de se vê quando

    a ênfase se dá na negritude, a africanidade, na construção do saber cultural do negro em todos

    os espaços. Soma-se a esse fator a importante contribuição dos povos pretos à formação

    cultural do Brasil, com suas religiões, costumes, língua, saberes e personalidades.

    Adentrar o universo operístico sob a luz da Ópera do Terreiros é considerar o que veio

    antes, desde a diáspora africana, sua resistência, a manutenção dos saberes e das coisas

    transcendentais que abriram caminhos e aos poucos ganharam espaços até então impossíveis

    de se alcançar. Reverenciamos, assim, todos os que construíram, lutaram e se dignificaram na

    transmissão dos saberes, tornando possível o alastramento dessa negritude fortificada no Brasil,

    mais precisamente, em Salvador. Onde a África é mais baiana. Onde a identidade molda e

    determina o ser negro.

    É função cultural e ancestral abrir caminhos, lançar luz e ampliar os horizontes para que

    esta obra alcance ainda mais terreiros pelo mundo afora, como já vem conquistando.

    Emocionando a quem a vê e a quem a ouve, transmutando a realidade que se esperava em

    nome de um futuro cada vez mais justo e livre como sempre deveria ter sido.

    SINOPSE:

    Cena 1

    Brasil,

    Fruto do amor dos filhos da antiga África

    Que cantado em ária, rememora seu passado

    Tornando latente o desejo de um futuro melhor.

    Brasil, vive a recontar inúmeras histórias pelas ruas e ladeiras de Salvador

    Nos portais da cidade quem o ouve, transporta-se para os portais do Benim

    Seguem rumo a uma nova terra num completo desconhecido

    Navegam pelo impetuoso mar de Olokun

    Revivendo tormentos que destruíram sonhos, aflorando muitos medos

    Onde naufragaram inúmeras histórias, restando apenas esperança.

    Mas hoje, Brasil não veio contar sobre a dor

    Mesmo latente e ainda presente

    Ele veio contar sobre os povos trazidos da terra mãe

    Resgatando todos aqueles que assumiram o compromisso de perpetuar sua história

    Suas raízes e seus ancestrais.

    Aqueles que trouxeram os signos que permeiam o seu sagrado e sua identidade

    E que chegando à baía que aportaram primeiro, onde todos os santos os receberam

    Guardaram consigo os mistérios, os encantamentos e seus saberes transcendentais.

    Cena 2

    Água de cheiro. Banho de arruda. Axé em templo sagrado

    Terreiros firmados, há séculos são avistados e visitados

    É canto, é dança, é fundamento

    Ao sabor das memórias que percorreram o oceano que os separou.

    Vem de Jeje, Ketu, Banto e Nagô

    Na roça que bate o ponto

    Maxicongo é Bate Folha de Congo e Angola.

    Sejam inquices, voduns ou entidades, filhos de todos os santos

    Se espalham, multiplicam e renovam sua ancestralidade

    Desde a Casa Branca ao Gantois

    Entre ladeiras, encruzas e matas

    É o sagrado assentado e firmado, legado da nossa história.

    É tempo de bater cabeça, tomar a benção e se curar.

    Salve as mães baianas que iniciadas iaôs um dia foram

    Salve todas elas que abençoam toda gente com seu banho de fé.

    Mulheres que foram resistência e se tornaram essenciais.

    Matriarcas! Mães de santo! Fonte dos saberes e dos cultos!

    O elo na gira perfeita que no tempo se sente o que não se vê.

    Cena 3

    Na energia que emana a vibração, o Maculelê é a batida que ressoa no tempo

    Tocando o passado no nascer de novos ritmos

    Faz surgir samba de roda no Recôncavo, reconvexo no alcance que se tem

    Na batida do tambor, ogãs dão o tom

    Capoeira é sinônimo de luta ao toque do berimbau

    Que encanta a quem o ouve e o vê

    E vai Brasil, banhado no axé de outrora

    Vem mostrar que o canto desta cidade também é seu.

    Ao saírem dos terreiros emanando todo o seu axé

    Blocos afro e de afoxés tomam as ruas com sua sonoridade

    A sacudir, a abalar, fluindo a baianidade que faz sua gira no carnaval.

    Num ato de resistência, em busca de sua essência

    Brasil sobe a ladeira do Curuzu

    E se põe a ecoar por toda a cidade que "a coisa mais linda de se vê é o Ilê Aiyê"

    No Muzenza e no Malê Debalê se renovam a negritude

    Como num levante a determinar seus espaços em nome da liberdade.

    Pelo ritmo do afoxé dos filhos da paz, Salvador ganhou as telas e os livros

    É festa de preto. É toque preto timbaleiro que sacode o mundo inteiro

    E traz cacique afro metalizado, afrofuturismo invadindo a tradição.

    Olodum, o quilombo dos ritmos sincopados

    Contam histórias que não se podia contar sobre muitos lugares

    Negro era rei e também divindade. Negro era o Faraó.

    - Eu falei, Faraó!

    Seu esquema mitológico ecoou nos quatro cantos do mundo

    Coroando com turbantes os súditos de Tutankhamon

    Signos mantenedores de uma ancestralidade viva! Transcendental.

    No Cortejo Afro, Brasil se viu representado

    Eis a Bahia que povo branco se rendeu...

    Alicerçado e fortalecido pelos que vieram primeiro

    Brasil, em sua "Roma Negra", valoriza seus saberes, comungando de todas as artes

    Transvestido de sua história que determina tudo o que foi e o que virá

    Alimentando a todos com sua genuína identidade

    Na capital que é patrimônio ancestral e que o mundo vem conhecer

    Pelourinho se transforma em cartão postal

    Quilombo que se materializa, força que sintetiza a luta secular por liberdade.

    Cena 4

    Vem chegando a negritude que dá a volta no mundo e vê o mundo girar.

    Onde o amor é sempre azul

    Infinito como o mar de Olokun.

    Esta é a terra que o canto negro tem vez e voz. Mas que continua a lutar.

    Sua ópera negra, entidade que fortalece um laço universal de união

    Fomenta a negritude cultural na cidade mais africana além de África.

    Nesta ópera principal, Brasil é o fruto do amor

    Banto é Nkosi, Oxum é Nagô

    Entre cantos e encantos, eles se enamoram em meio a conflitos

    Exu abre os caminhos e rearruma os seus propósitos

    Iansã faz o vento dançar pro amor acontecer

    A senhora do tempo ensina que destino é coisa certa, não se pode mudar.

    O amor que é banto se vai, a morte o encontrou

    A filha de Oxum que fica, lamenta sua dor

    Em seu canto, tal qual uma prece, sente nova vida chegar

    Seu filho Brasil está prestes a nascer.

    Sua trajetória se torna estandarte em prol da negritude

    No panteão negro que se reconstruiu ao longo de toda sua história

    Nos laços que se firmaram entre os terreiros que viraram ópera

    E a ópera que se tornou terreiro também!!

    Com o renovar de consciência ganhando forma

    Sendo a liberdade sua fonte de inspiração

    Alcança novos portos, adentrando ou rompendo outros portais

    Onde o povo preto é o protagonista e se mantém ancestral

    Para além dos que um dia foram tratados como senzala

    E transcende a tudo o que um dia lhe fora negado

    Mas que agora vem encantar o mundo

    Com sua arte, sua raça, seu canto e sua cor.

    E vai o Brasil

    Cantando em ária sua ancestralidade

    Como fruto do amor dos filhos da Antiga e da "nova" África

    Rememorando seu passado, na construção de um mundo melhor!

     Argumento: Anderclébio Macêdo

     Rodrigo Almeida

    Texto e pesquisa: Anderclébio Macêdo

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=kK8cVE51Q9A >. Acesso em 28 mar. 2024.

    ______. Olodum – O Eco dos Tambores / A Revolução do Tambor. 08 set. 2023. Disponível em:

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