NOTÍCIAS / Tudo sobre Samba

  • 26º aniversário do GRES Tradição

    Lucia Mello em 01 de Outubro de 2010

    "E na avenida do meu coração, desfila sempre linda a Tradição"
    Há muito havia se mudado para a Estrada Intendente Magalhães. Não se acostumava em ser vizinha da Tradição. Era portelense fanática, e não compreendia o que havia acontecido em 1984. Ver um grupo tão querido de sua escola criar uma nova agremiação não era fácil para Dona Maria, uma simpática senhora nascida em Oswaldo Cruz. Mas essa era a sua realidade: morar ao lado da quadra da Tradição.
    Logo no primeiro ano em sua  nova residência, viu o Campinho vibrar com a Tradição no desfile das campeãs. “Passarinho, passarola, quero ver voar...” Do nada, Dona Maria cantava esse refrão e se policiava para que isso não acontecesse em público. Mas não adiantava, pois cada samba novo estava na ponta da sua língua: “Quem não tem Balangandãs, não vai ao Bonfim...”, “Verde que te quero verde, a Mãe d’Água pra abençoar...”, “Liberdade, sou Negro, Raça e Tradição”, “Nega baiana, tabuleiro de quindim...”. Tentava dormir, tampava os ouvidos, mas o som da bateria não permitia. Na realidade, o som da bateria alcançava muito mais que seus ouvidos, alcançava seu coração.
    Até que em 2001 Dona Maria não tinha como não torcer pela Tradição. Durante muitos anos teve como companhia dominical Sílvio Santos e naquele ano ele estaria na Tradição. Se rendeu ao Condor e vibrou com o Homem do Baú. Mas seu olhos só se encheram de lágrimas quando viu a Tradição entrar na Sapucaí em 2004. Neste ano, tinha ido assistir ao desfile na avenida e pensou estar vendo sua Portela passar. Não era. Era a Tradição, também de Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes. “Okê-Okê, Oxóssi!  Epa-hei, Iansã!” Daí por diante, passou a olhar a sua vizinha com outros olhos.
    Resolveu visitar a quadra, e isso passou a ser frequência em sua vida. Conheceu Vilma Nascimento e não cansou de recordar dela bailando com o pavilhão da Portela. Viu Vilma também com o pavilhão da Tradição e não pode negar que com qualquer pavilhão a Vilma seria para sempre o Cisne da Passarela.
    Foi se acostumando. Cumprimentava o presidente Nésio, ia assistir a confecção de fantasias, participava dos ensaios, já até assumia que “simpatizava com a escola”.
    Mais uma vez chorou, mas dessa vez de tristeza. Sua Portela e a Tradição ficaram nos últimos lugares em 2005. Percebeu que seu choro era mais pelo rebaixamento da Tradição do que pela colocação da Portela. Afinal, a Portela pelo menos tinha permanecido na elite.
    Naquele mesmo ano seu marido faleceu e Dona Maria resolveu voltar para Oswaldo Cruz. Iria morar com sua irmã, também viúva. Voltou a sambar na quadra da Portela com mais freqüência, pois mesmo morando em Campinho, bairro próximo de Madureira, estava afastada da quadra por comodidade. Comeu muitas feijoadas, viu “muitos rios passarem em sua vida” e foi vivendo sua velhice feliz.
    Mas a vida dá voltas e Dona Maria voltou para o Campinho. Seus netos estavam indo morar com ela e resolveu que no apartamento eles ficariam mais bem acomodados. Se mudou em janeiro deste ano. E reclamou do barulho da bateria, do samba, da Tradição. Perguntou ao vizinho em que dia a Tradição desfilaria na Intendente. “Afinal, o grupo B desfila na Intendente, né?” Até que se surpreendeu dois domingos antes do carnaval, quando estava na janela de seu apartamento e viu a Tradição passar, bem cheia, com muitos componentes, alegre. Mas não foi só ela; os vizinhos todos começaram a sair, a aplaudir, a tirar fotos. A Tradição estava viva. Mais viva do que nunca. E de uma maneira que muitos não esperavam.
    Dona Maria sambou, cantou e dançou. E voltou com a comunidade para a quadra. E sorriu. E percebeu que ainda havia motivos para gostar da Tradição. Na realidade, percebeu que a Tradição ainda estava no seu coração.
    Hoje, antes de dormir, Dona Maria esteve na quadra. Não havia muito movimento, apenas alguns funcionários arrumando o palco para os shows do final de semana. No oratório, na porta da escola, rezou. Pediu pela sua Portela, pediu pelo samba, pelos sambistas. E ofereceu sua oração aos 26 anos da escola que ela adotou como sua sem querer, sem desejar. E rezou. Pediu que o Condor voe alto e que a Tradição continue sendo sempre esse grande mistério em sua vida.
    Felipe Valença
    Em nome do presidente Nésio Nascimento, os nossos sinceros agradecimentos por mais um ano de muitas alegrias para a nossa querida Tradição.
    Um abraço caloroso a todos os componentes e amigos da escola.

     

     



ANUNCIANTES






SIGA O Ti Ti Ti!

#TITITIDOSAMBA