NOTÍCIAS / Tudo sobre Samba

  • À procura da batida perfeita

    Lucia Mello em 27 de Fevereiro de 2009

    Rio - A simplicidade do enredo ‘Tambor’ é, para o carnavalesco Renato Lage, o principal ingrediente da vitória do Salgueiro. Mas, no coração da escola, a bateria de mestre Marcão, “simples” é uma palavra desconhecida. Todos suaram muito para executar com perfeição as 10 paradinhas treinadas por meses a fio. Uma complexidade de movimentos traduzida em pura cadência, que arrebatou o público, mas não deu a nota máxima à Furiosa como no ano passado.

    Sem ter pregado o olho por causa da comemoração do seu primeiro título como mestre, Marcão, 44 anos, disse ontem que a nota 9,8 batucou na sua cabeça a noite inteira. O diretor de bateria aguarda com ansiedade a justificativa, mas adianta o que pode ter causado a perda dos dois décimos: “No segundo recuo, demorei a trazer para a frente dos ritmistas os tamborins e chocalhos, que faziam um desenho bonito se alternando e tocando juntos em determinado trecho do samba. Esse 9,8 pode ter sido por isso”.

    GRINGO NO SAMBA

    Pelas paradinhas, ele põe a mão no fogo. E bate no peito: “Foram corretas. Ensaiamos desde maio, bem antes da escolha do samba. Depois, o encaixe foi perfeito”. Segundo ele, mesmo a paradinha mais curta, com nove segundos, exigia total atenção dos ritmistas. Na mais longa — de 15 segundos —, o cuidado para não atravessar redobrava.

    Alguns ritmistas ainda tinham mãos e braços doloridos, devido aos 80 minutos de batuque. Ontem, alguns se reuniram na quadra para curar a melhor ressaca de suas vidas com frango assado, arroz, farofa, muitos litros d’água e mais batucada.

    “É um orgulho enorme fazer parte dessa bateria. Somos uma família e estamos mais unidos pelo carinho que o Marcão tem pelos ritmistas”, elogia Luiz Carlos Júnior, 22 anos, que toca surdo de 1ª, o tambor mais pesado da Furiosa. “Ele tem uns 10 quilos, mas quando chego na Apoteose já estou cansado demais e parece que esse peso dobra”, diz Júnior.

    O amor pelos tambores já da barriga da mãe, Maria da Glória, hoje diretora do departamento feminino. “Ela desfilou em março, com barrigão, e eu nasci em abril, já sambando”, brinca.

    Único gringo entre os ritmistas salgueirenses, o chileno Carlos Herrera Arce, 51 anos, 19 deles na bateria, também é só elogios. Convidado por Mestre Louro a integrar a ala em 1990, ele não puxa sardinha para si quando perguntado se adicionou tempero latino-americano à Furiosa. “Cada samba tem a sua batida e todos tocam igualzinho e muito bem”, afirma ele, apelidado de Gaúcho. “É por causa do sotaque, explica.

    MESTRE MARCÃO: BATUQUE COMEÇOU BEM CEDO

    As primeiras batidas que Marco Antônio da Silva, o Mestre Marcão, deu no couro de um instrumento ecoaram no bloco Moleque é tu, do Morro do Salgueiro, onde ele ainda mora. Marcão ainda era jovem quando, poucos anos mais tarde, começou a demonstrar seu espírito de liderança ao fundar a mirim Alegria da Passarela, que deu origem à Aprendizes do Salgueiro. Primeiro ele aprendeu a tocar tarol, depois repique, os surdos e logo o seu ouvido já estava habituado com toda a bateria.

    Em 1999 participou do seu último desfile como ritmista. A convite de Louro, passou a ser um dos auxiliares da Furiosa no ano seguinte. Em 2004, desentendimentos com a direção o fizeram acompanhar o mestre até a Caprichosos de Pilares. Mas o coração vermelho e branco bateu mais forte e em 2005 o grupo retornou à Rua Silva Teles.

    Ano passado, com a morte de Louro, que comandou o Salgueiro por 31 anos, Marcão assumiu o apito principal com pé-quente: a bateria obteve só nota 10. “Ano que vem tem mais, aguardem”,



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